sábado, 24 de janeiro de 2009

K.

Há uma razão pela qual não protestei nunca pelo facto de me terem dado esta alcunha de K.

E este facto é o de ser precisamente o nome de uma das personagens mais famosas da literatura europeia do século XX - Josef K.. Provém da obra de Franz Kafka (na imagem) - O Processo e é alguém com quem francamente me identifico.



Deixo em baixo um excerto copiado da Wikipedia sobre o dito cujo, à falta de tempo e paciência para escrever algo eu mesmo.

"O romance conta a história de Josef K., bancário que é processado sem saber o motivo. A figura de Josef K. é o paradigma do perseguido que desconhece as causas reais de sua perseguição, tendo que se ater apenas às elucidações alegóricas e falaciosas advindas de variadas fontes.

Embora Kafka tenha retratado um autoritarismo da Justiça que se vê com o poder nas mãos para condenar alguém, sem lhe oferecer meios de defesa, ou ao menos conhecimento das razões da punição, podemos levar a figura de Josef K., bem como de seus acusadores, para vários campos da vida humana: trabalho (quem nunca se viu cobrado ou perseguido, sem que seus acusadores lhe dissessem em que estaria sendo negligente), religião (quem nunca se viu pego, de surpresa, como Josef K., por um fanático intransigente, dizendo que teríamos ferido as leis divinas, sem que nos fossem apresentados os motivos), na escola (quem nunca se viu como Josef K., ao ser criticado por seu desempenho, sem que soubesse em que havia falhado, com críticas vagas, por vezes de colegas, por vezes dos próprios mestres).

Muito embora se preste às mais diversas interpretações, desde aquelas fundadas nos axiomas filosóficos até a mais profunda radiografia feita pela Sociologia, de fato, O Processo fornece farto material àquele que se debruça sobre o estudo para além da mera Dogmática Jurídica, de vez que, por meio de um conto que mais se assemelha a uma parábola, Kafka reproduz a negação do Estado Democrático de Direito e, ao mesmo tempo, leva o leitor a perceber que, mesmo vivendo sob a égide da Democracia "plena", há que se não perder de vista que as instituições não guardam sua razão de ser na prestação de serviço público, mas na submissão ao poder e às camadas dominantes.

Nesta obra, o protagonista, atônito, ao ser informado que contra ele havia um processo judicial (ao qual ele jamais terá acesso e fundado numa acusação que ele jamais conhecerá), percorre as vielas e becos da burocracia estatal, cumpre ritos inexplicáveis, comparece a tribunais estapafúrdios, submete-se a ordens desconexas e se vê de tal modo enredado numa situação ilógica, que a narrativa aproxima-se (e muito) da descrição de confusos pesadelos.

Mas não distam muito de pesadelos os processos reais que tramitam nos vãos da estrutura pesada, arcaica, burocrática e surreal das instituições zelosas da Justiça, de modo que, por fim, Franz Kafka terá sempre o mérito de ter, no início do século passado, retratado a sociedade de muitos povos, com fidelidade e crueza dignos de alçar sua obra à imortalidade."

1 comentário:

O noivo Titus disse...

Pena nao teres arranjado um texto mais longo, estava mesmo a apetecer ler este tipo de textos durante uns bons 45 min...

Talvez numa próxima K, talvez numa proxima!