terça-feira, 25 de março de 2008

K. em África

Respondendo ao apelo do meu caro T cá vai um post a contar o que tenho feito e por onde tenho estado no último mês.

Estou neste momento a 160km a oeste da costa de África, mais ou menos no prolongamento da fronteira Angola-Republica Democrática do Congo num destroço flutuante a que chamam plataforma petrolífera. O belo nome deste amontoado de ferro ferrugento é MG Hulme Jr (se há uma sénior nem quero imaginar como é que será!!!!) e é operado pela empresa Americana de perfuração Transocean. A petrolífera é a ENI (Italiana, antigamente chamada de AGIP). Esta coisa foi feita em 1982 e pelos vistos o forte aqui não é a manutenção. Antes de vir aqui para os mares angolanos esta traste operava na Nigéria, que como se sabe está longe de ser o país africano onde se preocupam mais com este tipo de coisas. Só para acrescentar uns detalhes, há uns meses uma das pernas flutuantes estava a meter água abundantemente e portanto quem cá estava ficou a ver o mundo num belo plano inclinado. Em Janeiro caíu a Top Drive (para quem não sabe o que é, fiquem sabendo que é um brinquedo caro (e pesado) para o qual existe uma lista de espera, dizem-me de 5 anos e que basicamente é o que permite executar todas as operações relacionadas com a perfuração). Como com qualquer aparelho electrónico quando se deixa cair as hipóteses de avariar sao grandes por isso hoje em dia de vez em quando pura e simplesmente deixa de trabalhar e então temos entre 6-12 horas até que consigam resolver o problema.

Aqui trabalha-se em turnos de 12 horas (como habitualmente) todos os dias durante o mês que se cá está. Eu tenho estado a trabalhar sempre da meia noite ao meio dia. Divido o quarto com quatro (felizmente sao os meus colegas) e a casa de banho com oito. A limpeza deixa muito a desejar. Basta dizer que quando cheguei só ao fim do terceiro dia tive direito a toalha, entretanto limpava-me numa das minhas t-shirts. Não ha toalhas suficientes para todos. Aparentemente no ultimo ano desapareceram para cima de 100. Têxteis de Portugal, acordem para esta boa oportunidade de negócio!!! Mudar a roupa da cama, esqueçam, só pedindo e muito a custo. Eu tive que dormir a primeira semana nos lençóis que o meu colega tinha usado... Fronhas de almofada??? Para quê? Ainda não tive direito a uma. Durmo numa almofada que centenas de pessoas ja devem ter usado (o cheiro confirma...) A casa de banho muito ocasionalmente é limpa, mas felizmente nao chega ao ponto de meter nojo... E há água quente...

Ao menos estamos agora todos a dormir no mesmo quarto, porque pelo que me contaram quando aqui chegaram estavam dispersos por vários quartos dormindo com os nigerianos. Tentando dormir pelo menos. Um dos meus colegas contou-me a sua bela experiência, já que na cama abaixo da dele estava um nigeriano que pelos vistos era muito carente. E então passava a noite toda a ... acariciar o seu instrumento... ruidosamente... Arghhhh!!!

A comida é a coisa melhor! Temos um chefe francês que cozinha muito bem e diga-se que estando cá para cima de três semanas só comi repetido umas três vezes...

As infraestruturas para recreio resumem-se a uma sala de televisão que de acordo com os gostos dos autóctones (na sua grande maioria nigerianos) limitam-se a passar telenovelas nigerianas o que, digo-vos é muitíssimo bom e enriquecedor do nosso nível cultural. Julgavam que as telenovelas da TVI eram más (e são, de facto...) Imaginem então algo 100 vezes pior e podem chegar ao nível destas. É que para cúmulo são filmadas com câmaras que parecem aquelas que se usavam para filmar os jogos do futebol brasileiro há uns anos. Para quem se lembra...

Ginásio, népias... A grande diversão aqui é torrar ao sol no heliporto. Curiosamente eu nem consigo estar lá de pé muito tempo porque a temperatura do chão é tão grande que mesmo com sapatos me queima os pés. Ontem deparei com o driller feito tomate... Cheira-me que deve ter adormecido algures por lá...

O serviço de lavandaria em geral até funciona bem, excepto quando contrataram um tipo novo que nunca tinha visto uma maquina de lavar à frente e se enganou com a roupa de toda a gente. O resultado foi termos todos de ir pescar os nossos boxers e peúgas a um grande contentor cheio delas... Nunca na minha vida passei a mão por tanta roupa interior (masculina) e espero que tal feito não se repita... Asco...

Para chegar aqui temos que embarcar no belo terminal doméstico de Luanda (que consegue ser ainda pior que o internacional que já é o que é...) voar uma hora para norte até o Soyo e depois 45 minutos num helicóptero sem ar condicionado para aqui.

Angola... Isto é outra história. Fiquei pouco tempo em Luanda. Mas adorei o pouco que vi, mesmo considerando que está tudo uma lástima. Mas adorei este aroma a África, este exotismo e o fascínio que algo de tão diferente do que estamos habituados nas nossas ordenadas cidades europeias me causa. As pessoas são belas e autênticas. As mulheres são fantásticas, especialmente as mulatas. Perguntaram-me logo se não me queria casar com uma Angolana e o nosso motorista diz que me arranja muitas para eu poder escolher... Hehe, quem sabe ;)

E é isto, por enquanto. Espero dentro de uma semana estar de volta. Faltam as fotos, eu sei mas ainda não tirei nenhumas. Depois faço outro post mais ilustrativo!

Beijinhos e abraços a todas as encalhadas e aos encalhados! Tenho saudades das nossas noitadas divertidas!

P.S.: Para terminar não posso deixar de dar mais uma vez os parabéns ao T pelo belíssimo emprego que conseguiu. Foi dura e longa a espera mas no final valeu a pena. Tenho pena que não vamos estar juntos no próximo ano mas ao menos espero uma visita tua! Para mim visitar-te vai ser mais complicado, mas a Argélia faz parte dos países que eu quero ir por isso algures no futuro quem sabe!

1 comentário:

O noivo Titus disse...

Kapissimo,

tal como eu esperava, a plataforma é tão boa como a péssima que eu encontrei o ano passado.

Cá estou eu no meu emprego de pessoa séria, onde só se trabalha 8h por dia, que comparado com o que se sofre no bonito mundo do petróleo, isto é brincadeira de miúdos.

Conheço bastante bem a sensação de lençois não lavados (para não dizer a palavra "sujos"), WCs não higiénicas, telenovelas nigerianos com os piores actores do mundo, gente estúpida que apanha sol a mais como se tivesse numa qualquer praia do Algarve, o terminal doméstico de Luanda (onde é tudo ao monte, não há computadores, as malas são revistadas, etc etc).

Depois disto tudo, resta-me perguntar:
"Como é que consegues gostar de estar aí?!?!?"

Obrigado pelos teus parabéns, para o ano serás o Mestre K a arranjar qq coisa so género. Quanto a visitas na Argélia....não sei se te receberei em grandes condições! Já as que eu te vou fazer a Londres, sei que vão ser catitas e sopimpas de certeza!

Ficamos à espera das fotografias!

Forte abraço